COLA: oficina de sistemas de som

COLA: oficina de sistemas de som




Durante a oficina, Lucas Emerick e Édipo Santos compartilharam com o público um panorama geral do funcionamento de um sistema de som, tendo em vista suas dimensões eletrônicas e acústicas. Através de interações teóricas e práticas, o público conheceu um pouco de cada parte envolvida na montagem de um sistema de som, além de boas práticas na sua aplicação e performance. Ao fim da oficina, duas caixas de som foram construídas e estão prontas para formarem uma pista de dança.



O texto que segue apresenta uma conversa realizada em meio online no dia 20/10/2022 entre  André Siqueira (Micropolis), Édipo Santos, Lucas Emerick e Vitor Lagoeiro (Micrópolis). O encontro foi gravado e depois a conversa foi transcrita e editada.

André: Para começar,  eu gostaria que vocês se apresentassem e falassem sobre como surgiu a ideia de fazer a oficina de sistema de som.

Lucas: Meu nome é Lucas e sou antropólogo de formação, o que não tem nada a ver com som, no sentido da técnica. Mas eu também me formei como técnico em automação industrial, então eu já tinha alguma noção de eletrônica em geral. Para além da minha formação, já tem vários anos que eu vinha produzindo música e, paralelo a isso, construindo um circuito ou outro para fazer controladoras, sintetizadores e filtros. E aí, em algum momento, eu pensei: por que não construir uma caixa de som também? Não parecia ser tão complexo. A partir disso fui aprendendo e já tem mais ou menos dois anos que eu comecei a me envolver com a técnica de alto-falantes, o que me levou a construir o primeiro sistema de som que eu tenho até hoje, e que foi o mesmo que construímos juntos na oficina.

Édipo: Bom, eu sou engenheiro e tive contato com caixas de som mais pela vontade de ter algumas na minha casa, na verdade. E quando eu comecei a fazer, eu vi que poderia ser muito simples, mas também tinha muito onde aprofundar teoricamente. A partir disso, eu  passei dois anos desenvolvendo a parte teórica por hobby, simplesmente. Só que nesse meio tempo eu vi que isso poderia virar um negócio. Foi então que eu comecei a organizar uma empresa de fato, que acabou não saindo do papel — acabou morrendo na praia — mas serviu para acumular bastante conhecimento. Por outro lado, a oficina em si partiu, na verdade, da Micrópolis. O Vitor Lagoeiro conhecia um pouco do meu trabalho e me convidou. Eu achei super pertinente, porque foi muito legal passar um pouco desse conhecimento acumulado para frente.

A: Então foi a primeira vez que vocês fizeram uma oficina?

E: Foi. Eu já conhecia o Lucas e um certo dia ele me abordou, porque ele tinha ficado sabendo que eu estava me aventurando com sistemas de som. A partir de então a gente começou a trocar figurinhas sobre caixa de som. E assim que o Micrópolis me convidou para ser propor uma oficina, eu logo chamei o Lucas, e juntos fomos elaborando o que veio a ser essa oficina. 

L: Desde que eu estava construindo as coisas eu sempre ficava pensando que muita coisa que eu estava aprendendo poderia ser passada para frente. Então eu já tinha até um escopo de uma oficina. Eu vinha inclusive pensando em fazer um canal no YouTube ou uma conta no TikTok para espalhar esse conhecimento prático de alguma forma. 

A: E como vocês aprenderam a fazer sistemas de sons? 

E: Eu aprendi basicamente assistindo a vídeos. O que me ajudou muito foi a formação de engenharia, porque existem algumas disciplinas que convergem bem com as partes de eletrônica, ondulatória, a própria física, eletromagnetismo. Mas hoje a internet e o YouTube tem de tudo. O que muitas vezes é difícil é encontrar conteúdos em nossa língua. Tem muito conteúdo em inglês e em outras línguas que eu não conheço, mas em português existe um déficit de conteúdo. E por isso é importante criar oportunidades para a difusão desse conhecimento em língua portuguesa. 

L: Aqui no Brasil existe um mercado forte de som automotivo. Tem muita gente investida em montar grandes sistemas de som em carros ou paredões. Então até que tem muito conteúdo dessas pessoas na internet. Tem alguns inclusive muito bem organizados, como é o caso do Estudo do Áudio, que foi feito por um cara que era da JBL. Ele trabalhava em um laboratório, e depois começou a fazer um conteúdo mais estruturado, que foi um grande passo pra mim, pelo menos. Foi uma linha por onde eu peguei bastante da estrutura do que era trabalhar com sistemas de som. Mas, ainda que exista muito conteúdo na internet, custa muito caro colocar esse conhecimento em prática individualmente, porque os componentes de um sistema de som são custosos. Nesse sentido acho que essa oficina foi muito interessante, porque houve recurso para realmente tirar esse conhecimento do papel e  botar as caixas para tocar de fato.

A: Vocês podem descrever o que aconteceu nos quatro dias para quem não pôde estar presente, contando um pouco sobre cada uma das etapas?

E: Nos primeiros dias nós tentamos dar o máximo de contextualização teórica, e conforme a oficina foi se desenrolando, nós passamos um pouco para a parte prática. O último ato prático foi a montagem do sistema de som final, processo no qual a turma inteira se envolveu. Mas antes disso, tivemos uma aula prática na qual distribuímos a turma em grupos que montaram mini sistemas de som em caixas de leite que tocavam músicas. Por mais que esse protótipo fosse pequeno, é o mesmo processo de ligar um sistema grande. 

L: Em relação à introdução teórica, nós a dividimos em duas áreas distintas: o sistema eletrônico e o sistema acústico. Na primeira parte a gente trabalhou como são feitas as ligações dos fios, falamos sobre o movimento da bobina dentro do alto-falante, sobre o amplificador, enfim, sobre os componentes eletrônicos que estão dentro de um sistema de som, dentro de uma caixa ou fora dela. Na sequência a gente abordou essa questão da caixa acústica, de como o material e o desenho ajudam a modelar o som. 

A: Pensando nessa parte mais teórica, vocês avaliam que essa parte mais técnica foi um empecilho para o aprendizado dos participantes? 

E: Eu não acho que tenha sido um empecilho. Na parte teórica, na verdade, a gente só molhou as canelas, porque ainda tem muito conteúdo teórico que não foi abordado. Boa parte desse conteúdo teórico é mais avançado, no sentido de projetar um sistema de som muito perfeito ou muito próximo da perfeição. Mas seria muito maçante entrar muito a fundo, e eu acho que a parte prática mesmo não é muito complexa. A parte de pegar, pôr a mão na massa e montar as caixas. Mas eu acho que a parte teórica talvez tenha sido o diferencial da oficina. É importante entender um pouco mais a fundo antes de sair ligando as coisas. Informação sobre como sair ligando tem muita por aí. O que falta é saber porque pode ser melhor de um jeito ou de outro. E para isso, é importante ter embasamento teórico. 

L: Mas eu entendo que a parte teórica pode ser um pouco difícil. Ela tem muita profundidade, é um mar de coisas. E isso serve para qualquer teoria sobre qualquer coisa.   Mas o nosso objetivo não era transformar ninguém em especialista. A oficina foi muito mais sobre dar um empurrãozinho pra quem quiser entrar nesse mar de conhecimento. E não precisa de muita teoria para colocar um som tocando muito alto. Nossa introdução não deu segurança pra ninguém montar um som gigante, comprar milhares de reais em equipamento e montar  uma empresa. Mas deu a base necessária para a pessoa começar a adentrar nesse universo. 

A: Como vocês veem os desdobramentos da oficina? Pensando nas pessoas que participaram, como o conhecimento poderia ser apropriado em projetos individuais, profissionais ou coletivos? E quais limitações vocês enxergam para a apropriação desse conhecimento?

E: Muitas pessoas demonstraram interesse em construir seus próprios sistemas de som.  Mas um desdobramento que eu considerei colateral é que havia muitos DJs, de diferentes estilos, participando da oficina. E vários deles relataram que a partir da oficina, eles se tornaram muito mais preocupados e sensíveis com algumas questões técnicas do seu próprio trabalho. Havia também muitos produtores de festas que passaram a entender melhor sobre equalização de som. É um desdobramento que mostra o impacto da oficina na prática cotidiana dessas pessoas, o que, pra gente, é muito legal de ver. 

L: Esse desdobramento da produção, né? Mesmo que o participante não faça caixas, ele lida com elas. Mesmo caixas de som alugadas precisam ser ligadas em um sistema elétrico. A gente pode mencionar vários outros desdobramentos possíveis para quem produz festas, que é melhorar a qualidade do som que tocam nas festas, o que, consequentemente, melhora também a qualidade das festas. Eu acho que esse é um desdobramento muito legal. Outro desdobramento interessante foi que construímos um sistema de som bom, que funciona e toca música. Essas caixas que construímos provavelmente vão tocar alguma música por aí. Então a oficina gerou um legado que fica pro coletivo.

A: Queria aproveitar que vocês falaram sobre o sistema que foi de fato construído para saber como vocês imaginam o potencial de uso das caixas de som construídas na oficina. 

L: A gente ainda não sabe como isso vai se dar, mas existe o desejo de ser gerada uma política de uso coletivo desse sistema de som. As caixas são ótimas, mas elas são para um público limitado. Entretanto, elas podem ser associadas a outras caixas, formando um sistema de som mais poderoso e ser realmente usada pelos coletivos de música de Belo Horizonte. 

A: Essa foi uma das oficinas com mais procura, por que vocês acham que ela despertou tanto interesse em Belo Horizonte?

E: Eu fiquei um pouco surpreso. Eu não sei se é porque nós frequentamos o meio das festas e da produção musical, e isso fez com que naturalmente pessoas desse meio ficassem sabendo mais rapidamente da oportunidade. Mas foi uma surpresa para mim.

L: Eu acho que se fosse um outro assunto de música talvez não chamasse tanta gente assim, sabe? Eu acho que como o som é algo que está tão presente para todo mundo, eu suspeito que muita gente tenha um certa pulga atrás da orelha para saber como o som funciona. Acho que também existe uma estética do som. Sistemas de som são bonitos e tocam música, é algo meio mágico. Eles transformam ambientes. Eu acho que o som guarda esse poder de atração que faz as pessoas se interessarem por ele. 


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