Constelações reais e inventadas

Constelações reais e inventadas


A partir de conversas com moradores do Jardim Canadá, Denise Alves-Rodrigues chama atenção ao nosso perene – e criativo – interesse pelo céu e as estrelas

por Daniel Toledo




Uma poética aproximação entre arte e astronomia conduz já há algum tempo a pesquisa da artista Denise Alves-Rodrigues, que chega ao JA.CA com a intenção de investigar constelações reais e inventadas que permeiam o imaginário de moradores e freqüentadores do bairro Jardim Canadá.

“Há mais de 30 mil anos o céu permeia o imaginário humano, tornando-se uma espécie de paixão platônica da nossa espécie. Nós jamais tocamos o céu, nem a lua, nem as estrelas, mas nunca deixamos de observá-los.”

“O que me interessa é captar essa cultura das pessoas do interior, essa tradição composta por invenções, superstições e histórias orais que vêm do passado e, sabe se lá como, resistem à passagem do tempo”, resume a artista, que ao longo das primeiras semanas da residência vem conversando com variados habitantes da região em busca de referências para o trabalho que apresenta ao final do ciclo de residência.

“Eu mesma venho do interior, de lugares onde as pessoas têm o hábito de olhar a paisagem e suspirar pelo campo, de onde ainda se tem tempo para olhar e escutar as coisas”, contextualiza a artista, que nasceu em Itaporã, no Mato Grosso do Sul, e cresceu em Araçatuba, São Paulo.

“Há mais de 30 mil anos o céu permeia o imaginário humano, tornando-se uma espécie de paixão platônica da nossa espécie. Nós jamais tocamos o céu, nem a lua, nem as estrelas, mas nunca deixamos de observá-los. É interessante perceber como cada civilização atribui diferentes nomes e significados a cada uma dessas mesmas constelações que estão lá desde antes de existirmos”, completa.

Máquinas inúteis. Paralelamente a essas conversas, Denise trabalha no desenvolvimento de duas esculturas que apresenta como máquinas de ver constelações. A partir de projetos que incluem a utilização de resíduos em madeira, a artista recorre a técnicas artesanais como a marchetaria para criar dispositivos capazes de enquadrar diferentes conjuntos de estrelas.

Por meio deste procedimento, Denise cria esculturas para serem vistas e, ao mesmo tempo, fazerem ver fragmentos de um universo que em muito nos ultrapassa. “Entre os objetivos desse trabalho, está a ideia de promover experiências e reverter a anestesia de sentidos à qual somos constantemente submetidos. Em um mundo que visa quase sempre o lucro, criar máquinas que não servem a outra coisa senão ver estrelas é apostar na importância e no sentido da experiência, que certamente varia de pessoa para pessoa”, defende a artista.

“No lugar de usuários consumidores, o que me interessa é estimular o surgimento de usuários inventores, capazes de manipular tais máquinas e, em certo sentido, a própria realidade à qual tem acesso”, completa Denise, cuja estadia no JA.CA ainda prevê a realização de novas conversas e até mesmo palestras sobre astronomia voltadas a diferentes grupos sociais do bairro, assim como o desenvolvimento de um documentário sobre a vivência das últimas semanas, o qual deve ser exibido em uma espécie de especulatório astronômico ambulante, criado a partir da Kombi que serve como eixo da residência Dispositivo Móvel.


Denise Alves-Rodrigues fica em residência no JA.CA até o dia 14 de agosto. Acompanhe novidades e eventos relacionados a este programa aqui no site e pela nossa página do Facebook.



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